Pra você caber no meu peito

Eu ainda escrevo cartas pra você. E sempre vou escrever. Mesmo que você nunca leia e mesmo que eu nunca as envie. Porque escrever sempre foi o mais perto que eu cheguei de ser verdadeira – comigo e com você. Porque sempre fui mais corajosa com uma caneta na mão. Nesse monte de papel desperdiçado, eu uso todos os meus clichês pra te contar como você me emociona e me fere até hoje. Como eu te odeio e como você nunca vai sair de mim.

Às vezes, quando estou andando pela rua, lembro de quando você me perguntava se todas as meninas do planeta de onde vim eram assim como eu e ainda fico sem graça. Vez por outra, visto o vestido que você tanto gostava pensando que talvez possa te encontrar pela rua, sem nem me lembrar que moramos em países diferentes. Na verdade, eu faço isso sempre. Tenho mania de acreditar em mágica e acho que uma brisa colorida ainda pode colocar a gente na mesma calçada. E quero estar pronta: com o vestido, os sorrisos e tudo que a gente deixou pra trás.

Eu gosto de pensar que você ainda fuça minha vida, pergunta de mim para os amigos em comum e de vez em quando abre aquela caixa cheia de todas as coisas de nós dois. Gosto de saber que eu ainda estou um pouco escondida/esquecida dentro de você também. E que, de vez em quando, nossos pensamentos devem se trombar por esses cacos que ficaram esquecidos pelos nossos cantos.

Quase todo dia eu escuto ao menos uma música com tudo aquilo que eu queria te dizer. E eu canto em voz alta, no chuveiro ou na bicicleta, esperando que o eco chegue até você. Aliás, música sempre me lembra você (e você conseguiu deixar todas as minhas favoritas com um gosto amargo): na minha cabeça, eu ainda te mando mando mensagens de “escuta esse som” todos os dias.

Na verdade, acho que dentro de mim você ainda existe como se fosse meu.  Uma versão que eu inventei pra você caber certinho aqui no meu peito.

(o “você” deste texto foi interpretado por atores diferentes e em muitas temporadas. E não importa muito quem são eles. O que vale é o “você” que eu levo dentro de mim.)

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O caos é o meu vício

Preciso de barulho, transtorno e confusão. As histórias complicadas sempre fizeram mais sentido pra mim. A complicação é minha trilha sonora e eu só sei dançar entre gritos, paranoias e coração apertado. Aí é onde encontro esse meu tom intenso, meio cinza e ensurdecedor.

Encaro toda essa minha bagunça como uma poesia às avessas, uma maneira meio estranha que a vida encontrou para exigir de mim uma entrega total e irrestrita. E eu obedeço. Faço desse caos a minha declaração maluca de amor à vida e a todos que eu resolvo levar comigo.

Sim, declaração de amor maluca e um pouco doentia. Usar o caos como bomba de oxigênio não é saudável. Mas só assim minha alma cheia de excessos, vícios e defeitos consegue respirar. Só através de cores fortes e desacertos consigo ver a graça da vida. Cansa; mas é mais divertido, mais intenso e mais viciante.

Tudo calmo é chato pra caralho.

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Tudo/Toda mentira

Eu te mandei embora mas guardei suas mentiras como a lembrança dessa historia torta que a gente viveu.

Poderia ter sido o nosso senso de humor, o seu perfume que vez por outra sinto pela rua. Poderia ser aquele doce que você me deu quando me fez descobrir que o paraíso tinha gosto. Poderia ser o nosso sexo, nossas risadas ou todas as músicas que a gente usou pra definir nós dois. Mas não. Suas mentiras foram a trilha que você deixou em mim. É delas que eu lembro sempre que encontro você em algum canto escondido da minha cabeça – ou do meu coração.

Você mentiu tanto que eu já nem sabia mais reconhecer a verdade. Peguei suas mentiras, pintei de cor de rosa e vesti achando que era um vestido bonito. No final, descobri que na verdade eu era a idiota enrolada em uma camisa de força disfarçada.

Você se gaba por ser assim. Por conseguir “controlar” sua vida, domar seus impulsos, mascarar seus sentimentos e enganar pessoas pra viver bem consigo mesmo. Já eu acho mentira a maior das fraquezas. A desculpa esfarrapada dos covardes e o atalho dos sem caráter.

Por isso nossa história nunca aconteceu: sou muito de verdade e você é todo de mentira. E acho um desperdício de tempo e de alma dividir meus dias com gente assim. Eu busco pessoas inteiras, recheadas de verdade nem sempre tão bonitas. Eu tentei encontrar a sua verdade; não consegui…

Mas pode se gabar. Essa é também mais uma das suas mentiras. Você sabe que lá no fundo, a garota de verdade tem uma vida muito mais interessante que o seu faz de conta.

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Remédio e veneno

Remédio e veneno

Entre eles o amor era tóxico. Muito veneno pra pouca doçura. Peso no lugar da delícia. Não funcionavam juntos, mas também não funcionavam separados. Sim, a sintonia era perfeita, mas precisavam encharcar as noites de música e álcool para que fosse possível sua existência mútua. No resto do tempo, tudo o que vinha deles consumia a ambos, machucando, intoxicando e viciando. Eram o remédio e o veneno um do outro. E se reconheciam assim.

Eles se davam as melhores e piores coisas do mundo. Juntas, misturadas, enroscadas, estranhas e incríveis. Amor, brigas, sexo, mentiras, risadas, ofensas, carinhos e agressões se alternavam na mesma intensidade e proporção. Já não sabiam mais se brigavam por que se gostavam demais ou se se gostavam demais por que brigavam. Estavam viciados neles mesmos.

Vez ou outra, nos intervalos dessa tortura passional, a lucidez aparecia pra sussurrar que tudo isso era loucura, que nunca iria terminar bem. Eles não conseguiram escutar. Os gritos – de paixão e de raiva – eram mais altos que os sussurros lúcidos que a vida dava. Ficaram cada vez mais surdos, mais cegos e mais burros. Só conseguiam viver a partir dessa dinâmica esquizofrênica na qual o amor é violento e o ódio é carinhoso. Não sabiam se gostar sem se ferir.

E seguiram assim, se amando e se odiando. Se destruindo e se completando. Doendo e gozando. Chegando e partindo. Esperando que algum dia a lucidez aprendesse a gritar.

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Agora é hora de voltar

Tudo o que fiz sempre foi pra você. E você nunca nem notou. Ou notou mas não serviu de nada. Quis me transformar na mulher que você desejaria e acabei virando uma versão estranha e mal acabada de mim mesma. Mas ainda bem que a gente sempre volta a ser o que era antes.

Comecei a malhar por que pensei que uma barriga de tanquinho te faria pirar. Hoje, o tanquinho esta aqui. Mas sem companhia nenhuma. Eu aprendi sobre aquela banda que você adora, pesquisei sobre música e assisti seu filme favorito 5 vezes. Saí disso tudo um pouco mais culta e muito mais paranóica. Tudo o que Hitchcock me deu foram pesadelos com você.

Todas as vezes que eu entrava no provador de uma loja, era você que eu imaginava atrás do espelho. Meu gosto já não era mais meu. Queria ser aquele tipo de mulher magra e estilosa que você adora. Só que não sou nem magra, nem estilosa. E um vestido preto não mudaria isso.

Quando a gente estava junto, tudo o que eu queria era ser a garota sexy e engraçada. Tudo o que eu conseguia era tropeçar na sua mesa de centro e me sentir intimidada pela presença de todas aquelas mulheres com quem você já dividiu a sua cama.

Eu tentei te fazer olhar pra trás e quem sabe ver aquilo que você nunca enxergou. Mas não funcionou. Agora é hora de voltar. Pegar o mesmo caminho de onde vim e me encontrar comigo mesma.

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MINHA BELEZA E MINHA PERDIÇÃO

Querem me fazer acreditar que ser assim aberta, expansiva, inteira e quase otimista é um defeito. Mas eu não acredito nisso não. Essa é a minha beleza e a minha perdição. É a minha música.

Há quem me julgue por ver poesia em tudo. Por achar graça na tristeza e encontrar cor na dor. Me dizem que se mostrar de uma vez só é errado, que contar sua vida a um estranho é perigoso, que pular de cabeça machuca. Não ouço nada disso. Me mostro, conto e pulo. A vida só tem sentido quando a gente se rende às nossas vontades. Errado mesmo é passar a vida sendo e vivendo pela metade.

Alguns se assustam com essa minha mania de querer ser toda e tudo o tempo inteiro. Mas sigo meu jogo e troco a roupa da minha alma quantas vezes achar necessário. Mudo o caminho, a cor, o sabor, o tom e não desperdiço meu encanto com quem se contenta em ser o mesmo sempre. 

Quase ninguém entende todos esses mil sentimentos que trago dentro de mim. meus amores fulgazes, amizades eternas, relações tóxicas e paixões inesperadas são os que fazem meus olhos pequenos brilharem. Eles me dão esse sorriso que ninguém mais tem. 

Tem gente por aí que tenta usar essa minha entrega pra me machucar. Tentam transformar o meu atrevimento em arma de tortura. E, por vezes, me questiono se vale a pena ser assim.  

Vale sim. Ainda mais quando se encontra alguém que queira a dançar a sua música com você.

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Amiga x Amante

E então me disseram que sou melhor como amiga do que como mulher. Que deveria ser nas minhas relações amorosas como sou com as minhas amizades.

Ofensivo e impraticável.

Sou melhor amiga do que mulher por que me sinto mais segura assim. Por que confio nos amigos que escolhi e confio na amiga que sou. A amizade não requer esforço, não envolve medo ou traumas. Ela é natural, simples e leve. Com os amigos, sou a melhor versão de mim mesma. E mesmo quando não sou – o que acontece com certa frequência -, eles seguem me amando. Amizade não varia, não enfraquece e não tem crise. Não existe discutir amizade. Ela é a forma mais bonita de amor. Por isso é tão fácil.

Já o amor de beijo na boca, mãos dadas e cinema no domingo à noite é outra história. Amor é competição. É ter que provar diariamente que você ainda ama, que você ainda deseja, que você ainda quer. É ter que reconquistar a pessoa a cada dia. É viver com a possibilidade de que amanhã a pessoa não esteja mais aqui: o mundo é grande, cheio de gente linda, interessante e não há como controlar isso. Quem ama convive com a eterna sombra dos traumas e inseguranças do outro e com os próprios fantasmas do passado e cicatrizes. Esse amor aí é cheio de expectativa, cheio de sonhos e planos. E não sei lidar com isso. Ser o sonho de alguém não é meu ponto forte.

Sou melhor amiga por que o amor mais leve combina mais com a minha personalidade pesada. Sou melhor amiga por que o amor já me deu muito tapa na cara. Sou melhor amiga por que meus amigos sempre foram muito melhores que meus homens.

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Entrelinhas

Fazia muito tempo. Na cabeça dela, quase uma vida inteira. As memórias e a história deles já começavam a juntar poeira na estante dos casos amorosos que morreram antes da hora. Ela já conseguia lembrar de tudo com menos saudade e mais razão. Dava risada da canalhice encantadora dele e lembrava sem dor das brigas encharcadas de lágrimas.

Mas com um email, toda a força daquilo que eles tinham vivido entrou como um trem pelos vãos dessa memória que começava a esfarelar. Atropelou a normalidade e deu um soco na cara das quase certezas que ela tinha. Mesmo tanto tempo depois, a intensidade do passado fez tudo mudar de cor. E sempre foi assim: quando ela começava a ensaiar uma nova dança, ele voltava pra lembrar que a música deles ainda era mais bonita. E ela sempre vai escutar essa canção uma outra vez.

A conversa foi rápida, disfarçada de simplicidade. Mas entre todas as letras do que ele dizia havia um mundo inteiro de coisas para serem gritadas. Na resposta dela, fria e disfarçada de despreocupação havia todos os suspiros que ela já soltou por ele. Ela queria poder contar da nova vida dela, do novo álbum do Daft Punk, de como agora ela vai à academia três vezes por semana e da última coluna do Contardo Calligaris. Ela queria perguntar se ele ainda tinha a péssima mania de tomar um litro de café antes de dormir, se tinha consertado o abajour da sala e se ele ainda continuava achando que Ramones é uma banda overrated.

Mas não: tudo o que ela conseguiu dizer foi que ela tem sido uma garota de sorte e que a vida sempre coloca muita gente especial no caminho dela. Ninguém falou de sentimentos. A saudade, a paixão, as lembranças, os medos, gritos e beijos trocados ficaram trancados naquela gaveta que ninguém quis abrir (mas que os dois tem a chave).

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Aquilo que se sente

Admiro as pessoas verdadeiras com seus sentimentos. Gente que não coloca aspas, nem reticências e não usa eufemismo com o que sente. Gente que corre o risco de expor-se e que sempre vai soar um pouco exagerada para todo o resto que usa máscara. Gente que se posiciona.

Gosto daqueles que gritam, escrevem cartas de amor, fazem serenatas sem saber cantar. Gente que enfrenta o medo de parecer ridículo para dizer que conhece a pessoa há uma semana, mas que não para de imaginar como seria ela acordando ao seu lado. O outro lado da moeda também é verdadeiro: pessoas que quando não querem, simplesmente dizem isso e vão embora. Pegam a mesma rua daqueles que nunca voltaram.

O que não dá é pra viver on hold. Esperando uma reação/resposta do outro para saber o que fazer depois. Não. O sentimento é próprio de cada um, e a melhor (e mais bonita) maneira de vivê-lo é deixando que ele entre e ocupe tudo o que é nosso.

Não acredito e não entendo muito bem as pessoas que querem uma coisa mas preferem disfarçar e ver no que dá. Se você faz isso, ou você tem medo, ou não quer o suficiente. Esconder sentimentos é uma chatice. A vida é muito curta para não ter a cara-de-pau daqueles que carregam todos os sentimentos do mundo: amor, dor, ódio, desejo e paixão.

Eu sou assim e procuro gente assim: que assine embaixo daquilo que sente. Que entenda que sentimento vivido é muito melhor do que sentimento fantasiado de serenidade.

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Vem, 2013

Acabou mais um. E outro vai começar. Cada virada de ano é uma nova chance que a vida dá pra gente tentar ser melhor. Pra tentarmos fazer certo. É a vitória da esperança sobre esse monte de loucura que a gente anda vendo por aí. E até eu, que só tenho copos meio vazios, quero acreditar que esse mundão ainda tem jeito. 

Eu desejo que 2013 seja todo feito de risadas, abraços, surpresas e amores. Que todas as coisas, lugares e pessoas velhas que atrasam nossa vida fiquem lá atrás, junto com o último minuto de 2012. Que virem lembranças e não traumas. Que tenham o tamanho que devem ter e a importância que merecem. Que a nossa estante esteja vazia pra 2013 enchê-la de coisas boas.

Que sejamos simples, leves e abertos. Que nossos muros internos sejam cada vez menores. Que a gente pare de se trancar pra vida. Que nossos dias sejam uma doação da gente pra gente mesmo. Vamos nos permitir à felicidade. 

Eu desejo também bom humor. Paciência pra aguentar gente chata. Dias de sol. Filas pequenas. Dinheiro no bolso. Rede na varanda. Pé na areia. Coração aberto. Beijo na boca. Cama pra dois. Comida de vó. Viagens incríveis. Amigos e família sempre perto. Música boa. Cerveja gelada. Um mural sem fotos pra crescer junto com o novo ano e tudo de lindo que vai acontecer pra gente.

Vem, 2013.

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